Às vésperas do relançamento oficial de In Utero, que comemora os 20 anos do álbum, Songs to Valentina e o músico André Stella, do Rio de Janeiro, prestam uma homenagem a este que é um dos discos mais emblemáticos da história do rock. De natureza mais subversiva do que seu antecessor, o comercialmente bem-sucedido Nevermind (1991), o terceiro e último álbum de estúdio do Nirvana divide opiniões quanto a ser ou não o melhor disco da carreira da banda. In Utero (1993) distancia-se do apelo pop mais evidente em Nevermind, mas também não é tão "bruto" quanto Bleach (1989) a ponto de significar uma ruptura com o mainstream, o que faz a tríade Bleach-Nevermind-In Utero representar a mesma banda sob cargas emocionais diferentes, em momentos próprios, antes complementares do que opostos.
Songs to Valentina: O que você acha que o In Utero representou na carreira do Nirvana?
André Stella: O álbum mostra o amadurecimento do trabalho do Nirvana, consolidando de vez a identidade e a personalidade da banda. In Utero também é uma volta às raízes underground do grupo, dos tempos de Bleach, tanto nas composições quanto na produção do disco (que dessa vez ficou por conta de Steve Albini), bem mais “sujo” e “cru” do que Nevermind.
STV: E o que o álbum representou para o rock?
AS: In Utero foi o tão aguardado sucessor de Nevermind e gerou muita expectativa no mundo da música, em especial no mundo do rock. O álbum foi eleito por muitos críticos como o melhor da banda e consolidou o Nirvana como a maior banda de rock da época, a banda mais importante e relevante daquela geração.
"In Utero também é uma volta às raízes underground do grupo, dos tempos de Bleach."
STV: In Utero é seu álbum preferido na discografia do Nirvana?
AS: É páreo duro. In Utero é genial, um sucessor à altura, mas meu álbum preferido do Nirvana é o Nevermind, uma verdadeira obra-prima. Quando ouvi o disco pela primeira vez, foi como se eu tivesse levado um soco na cara. Fiquei atordoado, ouvia todo dia, o tempo inteiro. Mudou minha vida e a vida de toda uma geração, no mundo todo. Bleach é um disco fantástico e já mostrava o que estava por vir. Com Nevermind o Nirvana apareceu para o mundo de forma avassaladora, se tornando a banda mais importante e relevante que havia surgido em décadas, quebrando barreiras, trazendo o underground pro mainstream e abrindo caminho pra tantas outras bandas depois. Mudou a cena musical da época, tanto musicalmente quanto culturalmente.
STV: Quais faixas do álbum destacaria e por quê?
AS: Que pergunta difícil. O álbum todo é maravilhoso, todas as canções são sensacionais e cada uma tem a sua particularidade, tanto do ponto de vista das letras quanto das melodias e harmonias. Mas eu destacaria "Serve The Servants", "Scentless Apprentice", "Heart-Shaped Box", "Rape Me", "Dumb", "Milk It", "Pennyroyal Tea" e "All Apologies". São as minhas preferidas. Elas mostram o Nirvana em toda sua plenitude.
"O álbum foi eleito por muitos críticos como o melhor da banda e consolidou o Nirvana como a maior banda de rock da época."
STV: Conte sobre sua foto com Kurt Cobain. Quais lembranças tem daquele dia?
AS: Tirei minha foto com o Kurt em janeiro de 1993, durante o Hollywood Rock Festival, aqui no Rio de Janeiro. Eu e meus amigos fomos pra porta do hotel onde ele estava hospedado e ficamos lá esperando até ele aparecer. Nós estávamos nervosos e ansiosos, mas ele foi muito simpático e atencioso com a gente. Um cara bem tranquilo, bem simples. Tiramos algumas fotos, pegamos autógrafo, conversamos um pouco com ele. Enfim, foi rápido, mas foi inesquecível, pra levar pra sempre na memória e no coração. Kurt lives forever...