segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Psych Feelings: The Scrap Dealers


por Adeson Moraes

Voltando com mais um texto sobre uma banda recém-descoberta e que me agradou bastante. Vinda de Liège (Bélgica), a banda atende pelo nome de The Scrap Dealers. Paixão à primeira audição. Os caras fazem um som bem sujo e barulhento e suas tags do Bandcamp já chamam a atenção: punk, garage, rock, psychedelic, shoegaze. Barulho bom e dos melhores entre os descobertos por esses dias. Os integrantes são: Hugues Daro, Cedric Georges, Regis Germain, Justin Mathieu e Antoine Pottier, sem muitas informações sobre quem comanda qual instrumento, mas isso pouco importa pois são muito bem executados. Com o EP 'Red Like Blood' lançado em março de 2014 e o debut lançado em novembro de 2014, cujo destaque vai para a soberba faixa "No Sense In Your Eyes", The Scrap Dealers tem um futuro promissor e já pode figurar entre as grandes revelações da nova safra psych que aumenta a cada dia com excelentes bandas nascendo. Mais um presente para os amantes do submundo dos bons sons e para quem adentra esse labirinto onde se encontra um mundo incrível, principalmente para os iniciados. Então, sem mais. Fiquem com a maravilhosa "No Sense In Your Eyes". Boa viagem.




Thurston Moore pós-Sonic Youth: 'Demolished Thoughts' & 'The Best Day'


Lançado no último dia 21 de outubro, nos formatos LP duplo, CD e álbum digital, 'The Best Day', quarto disco solo de Thurston Moore, guitarrista fundador do Sonic Youth, em quase nada lembra seu antecessor, ‘Demolished Thoughts’ (2011).

O álbum abre com os riffs precisos de “Speak To The Wild”, a segunda mais longa faixa do disco, com oito minutos e meio;  Em seguida vem a balada, ao modo Thurston Moore, “Forevermore”, faixa que inicia com um envolvente baixo pulsante. That’s why I love you forevermore... repete várias vezes durante os onze minutos da música; “Detonation”, visceral, cortante e direta, é puro Sonic Youth; “Grace Lake” é a faixa instrumental do álbum ao melhor estilo: hipnótica, com doses de fúria e doçura alternadas; “The Best Day”, a faixa-título, remete à “Sunday”, canção consideravelmente popular no repertório do Sonic Youth presente em 'A Thousand Leaves' (1998); “Germs Burn” começa calma, mas logo chega aos berros de Start a fire / Stop a fight". Ecoa aquele punk urgente e cru de começo de carreira, explode com guitarras enérgicas sobrepostas e encerra o disco de maneira triunfal.

Ao contrário de seu predecessor, no qual Moore explorou sutilezas sônicas bem distantes das praticadas durante seu protagonismo no Sonic Youth ao longo de três décadas ininterruptas,‘The Best Day’ foge quase inteiramente daquela atmosfera acústica onde predominam dedilhados e acordes ao violão; elementos da música clássica, como um gracioso som de violino presente em quase todas as nove faixas de ‘Demolished Thoughts’; e até um assobio (em “Mina Loy”), traço inimaginável em se tratando do repertório tradicional do grupo, baseado na alternância entre instantes puramente abstratos de intensa experimentação sonora barulhenta e instantes de doçura quase pop - mas nunca ao ponto de ter um assobio no meio. Dá para dizer que ‘Demolished Thoughts’ é até monótono, sendo “Circulation” a exceção ao que parece regra no álbum: o clima intimista.

Se em ‘Demolished Thoughts’ Moore transcende o possível apelo comum aos fãs recém-afetados com o fim da banda para que o disco soasse como Sonic Youth, no presente registro o músico optou por não atravessar demais a fronteira além-Sonic Youth. O esforço foi mínimo, embora altamente deliberado (supõe-se), esboçado apenas em duas das oito faixas: “Tape” e “Vocabularies”, as quais se aproximam do repertório do disco anterior. Em ‘The Best Day’, no entanto, Moore deixa de lado tantas sutilezas e parte para a identificação imediata dos anos de carreira no grupo.

O material de 2011 pode ter sido desafiador e arriscado para o músico, ao apresentar para seu público uma faceta pouco provável, muito longe de exalar subversão e urgência jovem em riffs distorcidos. Mas apenas um disco pós-Sonic Youth era pouco para confirmar a emancipação do cinquentão Moore do DNA de sua banda, fortemente inspirado na matriz Velvet Underground.

The Best Day’ é muito agradável de ouvir, não causa nenhuma estranheza, não parece ter sido desafiador, exatamente por isso não soa como tal aos ouvidos. Um certo descrédito ao meninão de franja, mas um belo presente aos saudosos fãs da banda. Com isso, definitivamente o músico não faz de ‘The Best Day’ um marco discográfico em sua trajetória solo, especialmente pós-Sonic Youth. É um “mais do mesmo” bem executado e convincente, do qual não se ousa dizer que não é cria legítima do talentoso membro-fundador de uma das mais importantes bandas de rock do mundo.

Frutos da fragmentação da banda veterana em 2011 (formada em 1981 e com prolífica discografia), ambos os registros integram o catálogo do selo independente Matador Records, casa de outros consagrados no cenário alternativo como Cat Power e Interpol, além de Kim Gordon e Lee Ranaldo, ex-membros do próprio Sonic Youth, desde que a banda se desvinculou da gravadora Geffen, em 2006.


Para dar continuidade à tradição sonora Moore convocou Steve Shelley, que comandou as baquetas no Sonic Youth desde ‘Evol’ (1986), a discreta Debbie Googe, baixista da banda My Bloody Valentine, e o guitarrista Chrome Hoof, formando a Thurston Moore Band, que para delírio dos mais puristas e reverentes fãs brasileiros traz a turnê de ‘The Best Day’ para São Paulo, onde se apresentará no dia 4 de dezembro, no Cine Joia.